sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Leveza asfáltica







Moram em meus olhos
a euforia e a tristeza
ternamente dispostos
as surpresas do dia

Moram em minhas mãos
a ternura e a vastidão
mansamente dispostas
a plantar e a colher

moram em meu peito
o pássaro e a gaiola
desejando alimento
embora sonhe
com a liberdade

moram em mim
o amor e a raiva
pétalas e armas
sangradas pela boca

meu corpo deveria
estar inquieto com tantos
inquilinos.
Em vez disso
está repleto de silêncios

Ao longe ouço o mar
com as mãos em concha
em meus ouvidos

Divinamente
os deuses me deram
e me tiraram tudo











Adriane Lima










Arte by Amy Judd

Pedido de Natal fora de época





Assim como toda criança que mora em cada um
resolvi fazer meus pedidos .
Só que pós Natal , já que o "bom velhinho"
deve agora se encontrar descansado!
Quem sabe durante o ano que se inicia,eu possa ser atendida.
Eu não quero mais respostas para a prontidão da vida.
Vejo tudo com olhos abertos e sem a película encantada
que por tempos coloriu (o olhar), pois meus olhos, morrerão castanhos.
Vivi a verdade doída de homens bichos e de bichos homens.
Matam por suas fomes e suas fomes tantas vezes os matam.
Eu, tenho fome de infância.
E com tamanha veracidade resolvi fazer minha lista,
com desejos que sempre perdurarão em mim.
Que venham das mãos daqueles que um dia
deixaram suas marcas de levezas sobre
meus ombros para que eu, ternamente lembre-me
de seus gestos de delicadezas .
- Primeiro pedido : queria um megafone
para que meus gritos de solidão fossem escutados.
- Segundo pedido : um patinete para que com garantias tivesse ao menos um pé tocando o chão em meus momentos ilusórios.
- Terceiro pedido : queria a força das cores de Frida e ao mesmo tempo suas flores no cabelo revelando feminilidade.
- Quarto pedido : ter a capacidade mágica de crescer 
e diminuir como Alice, sem os golpes das rosas e das emboscadas.
Me lembrei de uns velhos conhecidos : queria ter o que eu já tive e que me fez feliz por habitar minhas memórias.
Quem sabe ter aquela bicicleta dobrável que ganhei aos sete anos.
Com ela dei meus melhores sorrisos e aprendi a me equilibrar sem ninguém me segurando.
Ah, meu estimado Papai Noel...
Me lembrei da surpresa dos nove anos : um cachorro de pelúcia
quase do meu tamanho,era meu companheiro inseparável
enfeitando minhas noites no quarto escuro.
Ou então as bonecas feitas de pano, costuradas pela minha avó,
 eu ali aos seus pés sentada,  ouvindo sua máquina a cerzi-las.
O sabor do vinho de meu avô misturados a água e açúcar,
adocicando os festivos almoços envoltos pelas risadas familiares.
Como a felicidade custava pouco e era saboreada.
Hoje, os símbolos mudaram e são baseados em marcas importadas !!
Querem IPhones, Tablets, Nike, roupas caras e bem embaladas.
O aniversariante nem é mencionado e são poucos os que se lembram dele.
A tecnologia evoluiu e o coração diminuiu ?
Não sei, se esse seria o fato, mas acho que perderam-se as levezas e os olhos de simplicidade.
Eu perdi a credibilidade em palavras, em poemas e
em tantas coisas nos últimos anos.
Achei que ao me aproximar dos cinquenta não encontraria tantos desenganos.
Substituirei o destino pela probabilidade, enquanto isso,
não me perguntarei se são só esses os meus pedidos, para em seguida responder-me : é tudo isso .
Há uma grande criança em minhas vontades.
Acho que sempre preferi as fábulas em minhas escolhas de leitura.
Sherazade estava certa, ao ler uma história por dia.
O mundo da fantasia não tem o gosto humano,
mas é lícito sonhar e fazer planos.
Tenho morrido ao ler tantas mãos de poesias.
Acho que meu erro é gostar tanto da ilogicidade
Embora nunca tenha acreditado em pedidos muito menos nos atrasados.







Adriane Lima













Arte by  Nishant Dange

Frêmito de asas






Acordei e me enxerguei
entre dois espelhos
a poesia e a realidade
visionário labirinto
onde instintos
me guiavam

avistava o longínquo
num céu de agruras
povoado por anjos caídos
e corações calejados
essas faces em conjecturas
apontavam minha solidão

sentimentos indiferentes
ante a vida de verdade
gestos programados
por um mundo palpável
flores na relva emolduravam o chão

o vazio dos instantes
feito de olhos distantes
que se existidos seriam eternizados

honrarias de homens
esquecidos no pó das asas
rastejantes Teseus
que nunca me encontrariam


 






Adriane Lima







Arte by Jack Powell 

Renov(ar)





Eu nunca tive medo de mudar.
Sempre aproveitei minhas coragens,até mesmo aquelas que me fizeram balançar e conhecer o medo.
Nunca me empoeirei em cantos entre sonhos guardados e pedaços que não mais me serviam.
Transformei meu mundo todas as vezes que sentia que poderia sair dali assim como entrei...mudada.
Mudei de casa, de emprego, de ideias, de amores, e mudarei sempre que sentir que não se encaixam mais em meu caminho pessoal.
Não temo as mudanças, saio machucada porém sempre cheia de esperanças.
Afinal, estou aqui para me vestir daquilo que acredito e ser assim como sou.
 

Alguns sentem borboletas no estômago.
Eu sinto um casulo abrindo-se em meu âmago ....

 



Adriane Lima




Arte by Charmine Olívia
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...