sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Oração para um dia abafado





Cecília Meireles escreveu :

Canção da noite alta-

"Andar,andar que poeta
não necessita de casa
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono."


(...) e isso hoje me descreveu tanto
não preciso de nada que me lembre : casa.
queria meu corpo bem longe daqui, me
sentir em outro idioma, brincando de adivinhar palavras.
seria tão mais sensato do que sentir o abandono
dentro de um chão tão conhecido.
meu sussurro se torna íntimo e sei onde me dói a indiferença.
casa, sugere barulho, riso alto, convivência, brincadeiras, mesa posta,
sono envolto em descanso na espera do dia seguinte.


 "Andar...Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida."


(...)sem esse senso poético,como estaria minha vida?
tudo remete a palavra e em muitas vejo cinismo, não
sei para onde estão indo meus dias vazios de verdades.
não mais sinto vontade de reter nada,nessa arte de
viver, andei sepultando alguns mitos
e como diz o poema, onde necessitar de vida nessa
comoção perdida...


Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.


(...) não há maior indiferença, do que andar em círculos
e atolar-se, talvez hoje tenha entendido melhor essa palavra
(a)tolar-se... ser a tola.
o poema me leu e me despertou, ou será que eu o li e acordei
dentro de uma lucidez sombria e incerta.
não é o poeta que não necessita de nada, ele necessita do
poder das palavras, da verve que o alimenta de metáforas
recaindo sobre si, o mito da existência e qualquer infinitude
que possa ousar o seu "eu lírico".

... ás vezes um dia no deserto dura uma vida toda...







Adriane Lima



 


Arte by Mary Sauer 

Das subtrações





Me pego múltipla, pétrea
dilacerada, alinhavando cantos
esquinas, ruas e estradas.
me transformando em outras

reinventando para ser menos
aérea, menos etérea e aceitar
o peso do corpo diário
ser parte do mobiliário
linhas, contornos, estética
pertencer a algo ou alguém
me penso, me repenso
fingindo não saber voltar
desejando não temer
a verdade, a maldade
e ainda assim ser eu
andante entre céu e ar
mesmo que tenha me perdido
mesmo que tenha te perdido
que o vivido tenha sido
um átimo desconhecido
daquilo que eu imaginei
ainda assim terei sido eu
em cada envergadura
de meu corpo
em cada laceração
de minha pele
em cada embocadura
de meus lábios
em cada silêncio onde
hoje morro

Bordo-me em (des)encontros
entre os alinhavos que me
cegavam até aqui












Adriane Lima 








Arte by Andrew van der Westhuyzen


Dos aforismos





Existe a confissão que os olhos sabem e 
por ela sonhamos acordados.
Existe a imaginação que a mente projeta e 

por ela morremos espantados...





Adriane Lima










Arte by Michelle Mia Araújo
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