sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A chave do possível




Árvore aérea
plantada em nuvens
ideológicas
onde está o chão
para tuas esperas?
terra há de ser
o mundo de alguém
espalhes sementes
que um dia
a verdade vem
nuvens se reinventam
luas mudam de fases
assim
misteriosamente
a verdade
é sempre
inexplicável
liberdade
é estar preso
sem significados
ou limitações
é fisgada
com direito
ao grito
podendo passar
ou ir além
a dor é felicidade
é limitada
é visão inventada
é carne experimental

que entre nuvens
nunca falte a
delicada água essencial

 



Adriane Lima





Arte by Christian Schloe 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Olhos febris

 
 
Minha poesia
anda doente
caquética talvez
contamina-se de ideias
de mitos,de ritos,de fábulas
e sonhos de bailarinas
 
anda tão civilizada
já está tão adestrada
a ser moça comportada
 
bem que já era hora
de levantar a saia
de virar a mesa
 
e contar que sua intenção
era fugir com o dono
de um circo
aprender malabares
 
ou aventurar-se com
um pirata dos sete mares
e beber rum em sarjetas
 
estava na hora
de não ser asceta
e perder a hora
de voltar para casa
 
porque a casa
está vazia
repleta de nostalgias
e músicas suaves
 
estava na hora
de minha poesia
não precisar
de elogios
 
olhar bem
em meus olhos
e confessar
sem metáforas
 
que ela
não é covarde
como eu 
 
 
 
Adriane Lima
 
 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Sob o poder de tuas asas




Eu que sou poeta
ou pelo menos busco ser
com o coração romantizado
busco loucuras e clichês

sinto palavras doces
escorrerem pela pele
a boca cheia de sussurros
e a alma absoluta

e eu quero o sabor
para macular minha loucura

finjo poderes de ninfas
sou sua Helena
sou sua Ofélia
a dona da teia
de emaranhadas mulheres
que você amou

em cada verso livre
sinto que me cabem
mais ousadias
e cito Pessoa :

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena"

e as nossas
acordam estrelas
ouvem a música dos anjos
e se transpassam
feito repousadas borboletas
no útero do anoitecer

movem céus internos
a procura do néctar
de distraídas pétalas

-alçam voos
libertas

para que tudo aconteça
antes que o dia termine






Adriane Lima

Poema invariável




 É perante amor que falas
é pelo amor que calas
é por amor que inventas
e me mostra então,
todas as (pre) posições da língua



Adriane Lima

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Entre pétalas adormecidas




É essa compulsão de viver
de ser, de ter
de doar, de desejar

o desejo por sí só
nos faz sofrer
alimentar as feras
que habitam as cavernas
do imaginário poder abstrato

Hybris me ensinou
o orgulho,o desenfreio
a desmedida vocação
para o drama
para o intempestivo voo

e vi um olhar de asas
que me consumiu

acreditei voar
e o maldito desejar
tentou matar
minha fome

e então ganhei
olhos poéticos
um espírito calmo
e placidez
ao estilo Déjá vu
de Sophrosyne

de tudo que sei
me dói desejar
de tudo que sinto
me dói desprender

é como ver um rei
fraquejar ao olhar
seu exército
retornar vazio
quando o mundo
ao seu redor ruiu

ainda restará a flor
a flor da espera
a terra em brasa
o céu habitado
por Eros
doando ilusões

sim, há uma flor
a flor de lótus
plainando sobre pântanos
solitários

em uma tarde
quem sabe um nobre plebeu
com sua espada em riste
e seus olhos calmos
que a tudo assiste
sentará nessa paz

quem sabe …



 


Adriane Lima





Arte by Christian Schloe

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ritual de voo





Com que letras
escreves tua tristeza
ideograma chinês
extinto esperanto
bebo com as mãos em concha
o peso de umas lágrimas
e o resto de minha alegria

nos salvo de prováveis
explicações agridoces



 


Adriane Lima






Arte by Michael Zigmund 

Atravesso o olhar na cidade

 
 
 
O Rio é o desconcerto
do capitalista
Para onde se olha o céu
está lá o Cristo Redentor
Cena que não tem preço
tanto o burguês quanto o gari
tem isso à vista !!!


 
 
 
Adriane Lima

Solitude de Poeta

 
 
 
É como um balé à beira mar
e meu olhar se perde
e se prende em meu sonhar
onde anda meu viver?
feito deslizes no ar
um bem te vi ao longe
traz a resposta na areia

essa vida desnorteia
feito as marolas do mar

- bem te vi e vem
bem te vi e vai

 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
Arte by Denis Nunes Rodríguez

Mesmo pela metade





Metade,se faz inteira
braços de acolhimento
eterno enlace
onde se faz pressentimento

-a lua é dos namorados







Adriane Lima 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Intima ação





Já experimentou
fazer amor
ouvindo música francesa?
a suavidade das palavras
o ritmo quente da voz

combina com o amor
suave, quente e vivenciado
em outras línguas






Adriane Lima 

Olhos pacíficos





Nunca parei para abrir 
o mundo de ninguém
minha janela 

para o amor 
te avistou e então,
abri a minha também


 


Adriane Lima







Arte by Alex Alemany 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Repenso Estrelas



 




Transbordo desejos
pelos cantos de mim
já não sou mais eu
quando penso em ti
sou solução aquosa
oriunda de uma nebulosa

em você : milagro-me



Adriane Lima






Arte by Christian Schloe 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Ardis






Tua palavra
tem temperatura
mas é só silenciarmos
que descubro em nós
toda literatura







 




Adriane Lima

Olhos de vigília





Cansei de ter olhos de vertigens
ver abismos e superar
quero olhos de planícies,terrenos linear
 

Uma rede nas pupilas
e em paz me imaginar


 


Adriane Lima





Arte by Christina Schloe

Vide verso






Já não carrego
nas costas
o que não me pôde
ficar tatuado



Adriane Lima



Arte by Pasquale Picazio

Presente pretérito




Pouco sei prever
o que vai acontecer
dos risos, os motivos
da busca, a soma de palavras
mesmo não sendo a saída
invento a verdade escrita

na alegria
na melancolia
na loucura
na noite e no dia

vida
existe
resiste
silenciosa
ornada
sempre

nas mãos úmidas
onde seguro um
universo onírico

nuvens de versos
vão mudando lentamente

quando pulsam,
transpassam
expulsam, ondulam
em minhas mãos as
palavras

crer é supor
adivinhar e sonhar

já não desejo acreditar
desejo sentir
palavra por palavra
copulando em mim
só poesias


 




Adriane Lima







Arte by  Eliot Lovett

Poema Anônimo




Queria que meu poema
não precisasse de nome
um poema sem nome
um poema sem dono
para explica-lo

Melhor que eu
e meu sujeito
que há muito
não se encontra composto

Vou fazer um verso exposto,
para você que anda oculto em mim


 


Adriane Lima





Arte by Marci Macdonald 

Poema sentimental




Quando me diz
de teu desejo
me arrepio
ao mesmo tempo
me assusto
 

respiro o peso
em meus ombros
onde sonho
depositar teus beijos
 

em mim há silêncio
e sossego
feito nuvens
que se dissipam
diante de olhos fixos
 

encontro-me
água potável
receosa, de tua sede
 

serei apenas mais uma?
não sei
 

não espero nada
apenas ser desejada
pelas metáforas
e imagens
que já depositaste em mim
 

é de minha natureza
atravessar olhares
poetizando espaços

o que, veja bem, não é pouco ...

 





Adriane Lima

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A dor de não saber sangrar





O cansaço
nos faz morrer
sem estardalhaço
sem um remoto controle
das pessoas que
seguem e conseguem
viver empunhando a faca
e nós , ingenuamente
vivemos confiando
o peito


 



Adriane Lima














Imagem retirada da net -

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Voo insólito




Um passo, um pouso
fiapos de frases
restos de ideias
fluxo de palavras
buscando equilíbrio

poeta se vê
em corda bamba
na vertigem
de um desejo permanente

paixão que leva
ao dolo
feito grafite na parede


o proibido é liberto
quando o poeta 

se vê no amor
o que era o branco do papel
passa a ser
seu desejo cristalino
 

capturando instantes
de felicidade
gerando o rebento
de um futuro ansiado

andar de mãos dadas
e olhos vendados
sobre um muro

sincronizando
a dança dos anjos 

e profanos

para o salto
basta
escolhermos bem
o abismo

asas  já temos




 


Adriane Lima





Arte by Dorina Costras 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Acerto de contas





Afinidade é dona da alma
desejo é dono do corpo

Minha vantagem
é não ter posse





Adriane Lima





Arte by Mia Tavanotti

Flor da tarde





Há poesia
no amor
no beija-flor
no verde da tua camisa
no meu vestido florido
na flor que humaniza
as nuances da vida


 

Adriane Lima





Arte by François Fressinier 

Olhar sobre meias verdades





Dizem que o olhar 
esconde as entrelinhas
e dentro há poesia ou só disfarces
 

a melancolia ou alegria 
de meus versos
quem saberá a verdade
 

esse amor que proclamo 
ou me engano
sobre o papel riscado 


por mãos úmidas
de antigos gestos 

em duplicidade
dizendo que um 

coração descompassou
 

prometo silêncio eterno 
e alguns escapes
até que o juramento se quebre
e o que disseram 

os poetas e os loucos
que amam e amam sem medida
 

sempre deixarão em histórias
que recolhem do mundo
mas, no fundo, sabem
que é só mais um
desengano de amor



 

Adriane Lima






Arte by Sergio Martinez Cifuentes

A arte de deixar algum lugar






Esteja na asa
dessa leveza
que abrasa e segue
intensa mesmo que
oculta ao seu olhar

experimente conter
uma borboleta
sua beleza
está em ser livre
ser inteira
e sem pousos certos

segure-a
e seus dedos
ficarão com o pó
de suas asas
marcando a passagem
em suas mãos

saboreie seu segredo
seu sagrado
como quem sorve
uma taça
de preciosa bebida
apenas isto
a cada hora,a cada dia

amor é liberdade
sem anestesia




Adriane Lima












Arte by  Marina Podgaevskaya

domingo, 12 de janeiro de 2014

Aviso








Mande notícias de seus olhos
eles sempre me falaram
mais de você




Adriane Lima







Arte by Andy Short 

Explosão do silêncio





Era o pedido
do corpo
exalando o cheiro
da paixão
eram músculos
pressentindo
a mudança
da respiração
e dessa forma
acordou a alma
silenciosa e calma
fazendo-a matar
sua sede
e feito ensaio de orquestra
entraram em sintonia
tão forte que ecoava
por dentro
tão leve que silenciava
por fora
tão urgente que apagou
a rua
tão calmo que acendeu
o dia
e nessa quietude barulhenta
essencialmente explorada
fez habitar ali
a mais pura metalinguagem
da poesia entre
corpo e alma


 


Adriane Lima





Arte by Benjamin Yeager 

sábado, 11 de janeiro de 2014

O ato além do ato





Meu coração
que andava ateu
por sorte
hoje, bateu mais forte
após tanto
descompasso
reaprendeu
a rezar

 


Adriane Lima




Arte by Mia Tavonatti

A força das marés




Trouxe comigo o mar
o sol na pele
e nos cabelos
visto pérolas
para combinar
ondas de intensidade
no olhar
espumas nesse brinde
que acabamos de fazer
trago na boca a sede
de teus beijos
e pensamentos fugidíos
feito rebentação
vão e voltam
voltam e vão
trouxe comigo o mar
e quero te dar
o que dele veio comigo
nessa infinita visão
sem tempo
que vagueia em mim

 


Adriane Lima
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