quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Poema para minha dor latente


Sobre minha pele branca
tatuei flores em círculos
formando uma mandala
buscando o equilíbrio com
a dor que lá estava

Depois de certo tempo,
já nem me lembrava dela
das dores que causou
enquanto fui marcada
mas ambas estão lá

A Mandala e as dores
nas costas marcadas
desenhada por flores
não as vejo ,mas sinto
e sei que lá estão elas
gravada em tons lilás
e vermelho rubro
para eu nunca mais esquecer

que a dor que dói mais me vem no mês de outubro

 
 
Adriane Lima
 
 
Arte by Saturno Butto
 

Crônica : Será o fim do mundo...?

Será o fim do mundo??!!...



Se tem coisas que me assustam, ver o fanatismo é uma delas. Ouvi numa reportagem nesta semana um "pastor" que levou duas famílias à destruição. Sumiram, deixando para trás, casa, parentes, imóveis, escreveram apenas um bilhete onde diziam que estavam seguindo as palavras de Deus e iriam seguir o "arrebatamento".
E desapareceram sem deixar pistas...rasgaram seus RGs, dinheiro e tudo mais que os "prendia aqui na Terra".
Para quem não sabe, "arrebatamento" significa, para os cristãos, a segunda vinda de Jesus à Terra, onde os justos seriam salvos e gozariam a vida eterna, a criação seria renovada e os maus seriam condenados à eternidade sem Deus, que é o inferno.
Tem gente que tem tanta fé em desgraças que me preocupo onde isso vai parar.
Tudo bem que o mundo não anda lá a mil maravilhas, que temos tido terremotos, tsunamis, vendavais, chuvas demais em lugares que nem chovia antes, mas daí acreditar que chegamos ao fim do mundo já acho um pouco de exagero (que bom!), porque amo tanto viver que temo assistir a essas profecias de fé.
Temo mesmo que o mundo esteja acabando, que seremos "arrebatados", que dias de escuridão se abaterão sobre nós.
Claro que fanatismo e profecias sempre existiram, mas daí criar seitas e sair fazendo pessoas ingênuas sofrerem já é um pouco demais para minhas crenças.

Sempre segui histórias de "loucos" que criam espaços dentro da fragilidade humana e é nessa hora que o pior acontece.
Mas não estou aqui para questionar a religiosidade, nem a fé de ninguém.
Quero falar sobre situações onde pessoas mal intencionadas tiram dinheiro através da fé alheia.
Claro que ninguém precisa ser conivente comigo, mas é mais produtivo batalhar pela erradicação de "gente mal intencionada" do que tornar nossa vida ruim, pelo medo de pensar em religião como um marcador do bem e do mal.
Claro que não devemos nos calar diante de tamanha violência urbana, tanta corrupção, injustiças, o descaso com o meio ambiente, mas daí criar polêmicas e prejudicar o bem-estar de famílias que têm boa fé, já acho demais!
Muitos se beneficiam através da fraqueza de conhecimentos históricos e, por que não dizer, culturais. Religião para mim envolve paz de espírito.

Não é preciso ser profeta para ver que o homem está acabando com o planeta, que a ganância de muitos alterou o clima, o solo, as vegetações.
E como conter tudo isso diante de uma natureza que pede socorro?
Eu temo, pois tudo são ciclos, e acredito no velho ditado: "cada um colhe o que planta"...
O que temos plantado de bom, de saudável ao nosso redor?
Quantas pessoas não têm nem tempo para saber o que se passa na própria família, na vizinhança, no amigo que sofre calado, quem dirá se preocupar com o planeta Terra, no "macro" cosmos...
Nessa hora, quando sofremos as catástrofes, aí sim ficamos alertas, tememos por nossas dores, por nosso egoísmo, por nosso micro cosmos, queremos a paz próxima. Mas como alcançá-la se não temos a paz de tudo que nos cerca?

Será tão difícil imaginar que todos precisamos de equilíbrio, se a ponte caiu ali hoje pode ser que não seja lá meu caminho, mas também pode ser que amanhã seja.
Não é difícil imaginarmos isso, pois a vida faz planos, altera nossos dias e às vezes só percebemos a mudança quando realmente já estamos envolvidos nela.
Morremos um pouco todos os dias, e nessas mortes básicas devemos pensar não com o ego, pensar em como se salvar, e sim em como salvar o que está ao redor. Aqui incluem-se amigos, vizinhos, o cara da padaria, do supermercado, do posto de gasolina...e você deve estar se perguntando mas por que?
Porque é simples, com um bom dia, um sorriso, eu posso mudar o mundo de todas essas pessoas e assim melhorar o meu, experimente; duvido que ao chegar ao caixa de um mercado que esteja lá sem ter escutado sequer um bom dia, mesmo já sendo 17h00, ele não vai mudar de opinião, de cara, de humor.

Parece até "papo" de gente que vê flores em tudo, mas não é.
É uma verdade que não vemos mais porque passamos apressados pelos dias. E é nessa hora que os falsos profetas, os manipuladores de sentimentos pegam as pessoas que estão cansadas de serem "invisíveis", de trabalhar o dia inteiro como máquinas, sem carinho, sem uma troca de olhar ou uma palavra de confiança que seja.
Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam, que doem, que teimamos em não enxergar, em não falar, em não vivê-las.
Não é preciso chegar num momento limite para se dar conta disso.
O enfretamento das pequenas mortes que nos acontecem em vida já é o empurrão necessário.
E nem preciso ser profeta para enxergar isso, basta praticar o olhar sensível sobre as coisas, sair desse "engessamento" de estar sempre certo ou errado sobre determinada questão, ler mais, estar perto de gente positiva e de bom humor, afinal ninguém precisa saber tudo, mas acreditar em um mundo melhor, isso é quase que uma obrigação!
É preferível uma vida em harmonia onde cada dia tem o seu sabor do que buscar uma vida eterna às custas de quem teme a si mesmo!
Sigamos o lema "Peace and Love", esse sim, nunca fez mal a ninguém.
Sejamos arrebatados ...pelo Amor ao próximo e por nós mesmos!

Acredite, nessa hora, sim, existirá uma fé inabalável!


Adriane Lima


(Texto publicado na Revista Glamour / Edição 2 /Ano 1 )

Olhos Calados



Eu choro todos os dias
são lágrimas
são cristais
são vegetos de nostalgia

Encaro as sombras,  finjo não ser eu 

meu corpo não obedece
e feito mergulhador
a espera de respirar
espero alguém, que venha me salvar

Já não lembro mais como são meus olhos
sem ficarem assim perdidos

sem ver cor fora da imagem
que ele tem projetado no infinito
 são dias e noites em preto e branco
vividos em minha retina

Estou cansada de tudo isso

de ser tão frágil minha sina
mantenho meus olhos abertos
mas me sinto sempre, clandestina

A realidade definitivamente

não foi a que escolhi,
desde menina
entre felicidade e impropérios
vozes que finjo que não ouço

Meu despertar é obrigatório

espero a noite, com alvoroço
me envolvo e reinvento modalidades
mazelas entre dores e punhais

Apagar as luzes, estar em paz

hoje, só me dói, a dor que não me sai

 



Adriane Lima






Arte by Sergey Ignatenko

Conto : Orientações perigosas...





Ninguém conhece ninguém,isso é sábio!!E quando a gente acha que conhece,os fatos se encarregam de mostrar o que não era tão visivel a tempos atrás.
E o que era para ser um simples jantar ,se tornou uma conjectura de fatos e fatores vividos pela nossa modernidade entre queixas de solidão.
Uma bela pasta "ao pesto",uns vinhos na taça e muitas risadas para acompanhar...perfeita combinação para uma sexta-feira a noite.
De início,todos polidos, comportados,amenidades no ar,mas,quando se descobre as queixas em comum entre os presentes a coisa muda de lugar.
E entre papos de namoros, saudades dos anos em que todos ali(quarentões) acreditavam em relacionamentos, chegamos a um denominador comum; todos eram separados e resolveram contar um pouco a história de suas vidas.
Detalhe: da melhor maneira possivel , sem lamentações, só o que poderiam ter de bom, entre o que ja foi vivido.
Para espanto geral,sexo foi o assunto...mulheres ali em maioria,onde a queixa eram os encontros casuais,o ir para cama no primeiro encontro, medos,fantasias, verdades,vontades e as ambições.
Nem preciso dizer que foi fatal, casos policiais, casos de traição, caso de desgastes da relação,amores, vibradores e falta de tesão...
Deus,quanta risada,mas nessa hora o mais engraçado era olhar os homens na sala, estavam estarecidos,cada qual em um canto de sofá,admirando aquelas declarações de mulheres modernas, nada Amélias em suas vidas pessoais.
E realmente ali entendi melhor a frase" Amor é prosa, Sexo é poesia";quantas rimas tinham aqueles enredos todos,quantos olhares e cumplicidades pairavam ali.
È certo que contar nossas desventuras amorosas a estranhos é mais fácil.

Ninguém precisa ser rotulado: fulana é a boazinha,beltrana a vagabunda,sicrana a vitoriosa,e assim vai...
Amigos tem sempre histórias em comum,sofrem uns pelos outros e riem também.Sabem que estão todos no mesmo barco.
Perfeita combinação,sem peso de cobranças,se por acaso alguma dose de desesperança nos abater depois.
Porque ali, me vi num mundo de regras ditado de nossas criações...
Freud que me explique isso, de que são nossos pais que sempre tem a culpa!!
A frase principal era": -sempre fui muito presa,desconhecia um monte de coisas e quando me vi livre...
O tempo passa e a vida vai nos fazendo menos crédulas, menos românticas e mais práticas,essa foi minha constatação.
Quanta loucura ,corações batem,sofrem,tem medo também,em todas as aventuras por mais que se entre sem sentimentos envolvidos.

Cada um sentia-se responsável por não saber onde ia de verdade e do que era capaz.
Entre histórias de amores todo mundo é um só,principalmente as mulheres...sonham com a felicidade,mesmo que essa seja momentânea,que não venha a dar romances, mas, que traga o peso da alegria,da boa companhia,e de boa pegada também e porque não.
Nem só de amor vivem os sonhos femininos, sexo é bom e sexo bom é melhor ainda.
Não dá para endurecer sem nenhuma ternura....literalmente falando!!!!

Adriane Lima 


    
( Texto publicado no jornal : A Tribuna / Agosto 2010 )
 

Cidade Pássaro


Sou feito sombra da lua
na calçada ilumidada
desta cidade nua
passo distante a maior parte
de meu dia, como quem flutua

Carros, concretos, sinais , buzinas
vivendo absurdos e tudo que alucina
sociedade morta dentro de fantasias
cidade que me enlouquece por entre avenidas

Cidade que mudou toda minha vida
cidade que tragou a magia que havia
cidade que invade e joga com sonhos
cidade pássaro tão feia e linda

Seus clãs falidos
velhas berlindas...

Por onde passo me faz vazia
ás vezes acho que é nostalgia
teu céu,azul perfeito é o mesmo
de meu mar sem maresia

Atravesso praças,bares e sua gente
olho no olho, ninguém nem sente
uma cidade surpreendente
mata, com simpatia silenciosa
aperta,quebra os ossos e ninguém
nem nota

Cidade das andorinhas
tú nunca foste minha
eu aqui tão só nunca me fiz, verão...
 
Adriane Lima


( Imagem : Alberto Pancorbo )

Ácida coragem



Como um espectador
que se salva da dor
eu vejo a vida vindo me encontrar
abro os olhos e ao meu redor
vou colhendo do dia novos lugares
ruas,lares,colos,...sinais

Não desanimei

até desafiei carne e sangue
sal do suor caido 
sal do sabor saído 
das lágrimas proferidas
e na escola da vida ,fui me aperfeiçoando

Caminhos tortuosos, bem rentes
uns escolhidos outros, nem tanto
noites assombradas, revés,cansaço
fantasmas indecentes de minha mente
outros bem vivos, de carne e osso

Fosse feita a vida só de verdades
tivesse autoridade, teria feito tudo parar
mas,vontade não move montanhas
e com isso meu corpo apanhava
das escolhas, sempre negadas

Não basta ser réu confesso
rumo dá quem manda 
quem detém o vil metal
e nem sempre o bagaço dá sumo
isso eu assumo e assino em baixo

Mas,a vida nem sempre esteve em minhas mãos
saber nem sempre é ter razão
foram papéis,
recados,
sonhos rasgados pela vida à fora

Vento,rio,natureza que acalma
água que lava e leva minha fé
ás vezes ela volta mas a
cumplicidade,nunca mais haverá
do que sobrou daqui

Resta saber,se consenti
atravessar o muro
quebrar o que era seguro
assinar o que não concordei
apenas para pagar por minha paz


Se é blefe, um dia alguém por mim vai  cobrar
e se eu perder o norte alguém vai sinalizar 
eu sempre tive a sorte de ter um santo para me abençoar


Adriane Lima
 





Arte by  Michael Parkes
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