sábado, 28 de abril de 2012

Sorte em Jogo



Te dizes humano
Tão frágil, insano
Que foges de mim

Te dizes profano
Tão sábio, arcano
Que morres por mim

Se queres que eu creia
Não coloque na veia
Mortal veneno assim

Palavras são fortes,
São crenças, são sortes
Jogadas em mim

Eu creio que a vida
Total destemida
Quisesse assim

Abrir tantas portas
Cravar as respostas
Tão dentro de nós

Recado mal dado
Tempo recortado
de minhas canções

Aceite o compasso
Pois nesse espaço
Somos apenas
um jogo
de Loto Real

 





Adriane Lima





Arte by  Claude Teberge 


terça-feira, 24 de abril de 2012

Conto : O amor não tem pressa

 

 

 

"È quando as escolhas nos são oferecidas que nos sentamos com os Deuses e nos inventamos.”

 

 


E quem poderia pensar, que, os Deuses estariam dispostos  em uma noite morna oferecer escolhas para quem já não acreditava mais nelas...E foi assim saindo do trabalho que Isabel em seu trajeto para casa atendeu a um telefonema, era Leonardo , chamando-a para  uma  volta de carro pela cidade, uma leve chuva caia e ela pensou na saudade que sentia após três dias sem vê-lo. Ele ligou dizendo estar precisando dela e pedia quase que sem argumentos que ela fosse lhe ver e que pudesse dar respostas para o que estavam sentindo.
Mas Isabel já sabia que era desnecessário explicar. Estavam vivendo uma grande paixão proibida, pois ambos já eram casados.
A maioria das pessoas pensa em escolhas como cargas que devem suportar e não abraçar.
Pois assim ela pensou: só existem três caminhos para mudar a trajetória das nossas vidas para melhor ou para pior :a crise ,o acaso e a escolha. E quando as três vem de uma vez não há nada que se possa fazer á não ser mudar.
Seria esta talvez a chance de sair daquele casamento que ela tentava segurar  com maestria .
Sempre acreditando que basta a amizade que sente pelo marido, o amor pelos filhos e sua profissão. Afinal, Carlos é  um homem forte que sempre lhe deu apoio e incentivo para chegar onde se encontra agora dentro de sua profissão. E agora, isto era tudo o que Isabel conseguia dizer a mesma.
 Infelizmente, muitas mulheres se sentem mal em admitir que seu casamento é absolutamente insatisfatório, e que seus sonhos se transformam em uma curva descendente de sobrevivência. Elas suportam os dias , semanas, anos , a vida.
Mas, não se libertam , não escolhem a satisfação pessoal .
Acreditando ser preciso fazer escolhas pelo outros , pois seria a escolha verdadeiramente moral, e não  emocional ; onde Isabel por sua formação pessoal repetia quase que em um estado obsessivo ( ...) vivemos nossos carmas através de nossas escolhas...reforçando assim  atitudes que ficariam apenas como pensamento recolhidos em um canto de onde não se podem avistar muitas saídas..
Tentava incessantemente ocupar-se de outros pensamentos mas , não poderia pois uma escolha precisava ser feita .
Uma escolha consciente deve ser criativa e traduzir autenticidade mesmo que nos amedronte  porém , uma escolha inconsciente pode ser destrutiva, uma mera resposta ao desejo ou á expectativa dos outros e isto era preciso saber diferenciar.
E  Isabel sabia bem disto,” a escolha é a parceira do destino “,mas o fato de estar vivendo uma relação assim a colocava em  oposição a tudo que já teria escolhido antes.
Desceu do carro, olhou para Leonardo com um aperto em seu coração pois sabia que ele também sofria das mesmas inquietações, não planejaram tudo aquilo, não escolheram se apaixonar ,não magoariam seus familiares.
E só ouviu a ultima frase de Leonardo,-È uma situação muito delicada quando nossos sonhos autênticos interferem nos planos e estilos de vida de outras pessoas ,mas quero muito que você me deixe viver essa paixão ao seu lado.
A chuva caia num ritmo incessante e cadenciado como seus pensamentos, era melhor fugir de dentro daquele carro para pensar em tudo que acabara de ouvir.
Realmente os Deuses deviam estar loucos....
Foi então que ela subiu por aquele elevador , o momento pareceu-lhe um misto de agonia e leveza, dois sentimentos antagônicos e ao mesmo tempo  próximos quando um se desprende do outro assim como a própria respiração.. , quase que em transe pulsavam em sua mente palavras. sim... estava apaixonada por aquele homem , aquele quase estranho pois ,se conheciam a tão pouco tempo mas era como se já tivessem estado anos um ao lado do outro .Sorvendo dos mesmos gostos , mesmas idéias de vida e modo de pensar. Não poderia ser verdade viver tudo agora ,  em um momento em que já não pensava mais encontrar ninguém para dividir tamanha responsabilidade que é amar.
Sentou-se em sua poltrona e a realidade invadiu o hiato que aquele encontro tinha provocado no tempo e no espaço, nem mesmo ouviu sua filha lhe desejar boa noite.
 Colocou um cd de jazz , suspirou e deslizando o corpo pela poltrona ,cerrou as pálpebras. Era preciso digerir aquelas palavras tão sinceras mas tão distantes do mundo que planejara para ...a solidão...de um casamento estável .
Tinha medo por ela e por ele, era preciso ter coragem para largar filhos , marido e viver aquela paixão que buscou durante anos em sua vida algo que a fizesse realizada quanto mulher,que a surpreendesse em cada gesto, palavras olhar...ah...os olhares que trocavam pareciam poder atravessar a cortina do “descabimento.”.. que sensação lhe vinha  agora...ele –o amor ,  estava ali tirando-lhe os pés do chão ...mas não lhe dava asas para flutuar , era denso, era diferente de tudo o que já sentira antes..
Resolveu então pegar em sua estante um livro qualquer , abrindo-o ao acaso, assustou-se ainda mais com a frase escrita no alto da pagina que acabara de abrir :
.”A coragem é frequentemente o resultado do desespero, assim como a esperança..
No primeiro caso não temos nada a perder , no segundo, tudo a ganhar”.
 Aquilo poderia ou não lhe soar como um aviso, um sopro dos Deuses dos desavisados...mas os Deuses não deram a  menor força para seu pedido de socorro porque ali em sua frente surgiu Carlos o marido lacônico que ela aprendeu a interpretar com os anos de convivência .E assim entendeu que estava mesmo construindo seu castelo de cartas...diante daquele homem que nunca a surpreenderia como ela gostaria que fosse.
E foi então que sem hesitar , num ímpeto de coragem e total lucidez, contou de um fôlego só ao marido tudo o que estava acontecendo.
Carlos a acolheu com os olhos calmos e serenos como sempre fizera , não disse nada apenas esperou que Isabel terminasse e então pediu que ela lhe envolvesse em um forte abraço.Disse-lhe então as mais nobres e autênticas palavras das quais  Isabel jamais pensou ouvir daquele homem tão desprovido de emoção; -confie em mim, você nunca vai encontrar um amante que a ame , adore, deseje, abrace  e lhe dê mais prazer do que a vida Real.Este é um relacionamento de iguais. Você tem vida demais pulsando dentro de seu intimo.
 Sim , Carlos conhecia Isabel mais do que ninguém e ela sabia que aquelas palavras eram verdadeiras.
Foi então que entendeu que sua verdade sobre o amor corria o risco de ficar soterrada sob escombros da expectativa alheia  e dos chavões da cultura em que fora educada.
Decidiu ir viver aquele sentimento...embora sem as certezas de felicidade eterna , buscaria algo que lhe trouxesse paz e a completude que tanto buscou em sua vida afetiva.


...” A mulher livre está  acabando de nascer ; quando houver obtido pleno domínio de mesma".  Agora mais do que nunca ela entendeu essa frase de Simone de Beauvoir que lera há tantos anos e sonhou um dia vive-la..



AdrianeLima



( Imagem : Mariana Calacheva )

Receita de um poema




Tem dias que o choro
é minha poesia que transborda
preciso dela para estar viva
e dele para lavar a alma
 
Choro e poesia me dão significados
denotam sensibilidade à flor da pele
onde me enfeito de sonoridades 
o poema me vence
e o choro me convence

quando estou com eles
estou à vontade

Poesia e choro

sal das letras
letras saem
 Se unem
se encaixam
voam feito pássaros
até o papel

Poema ...

é a tábua de salvação
onde as aladas palavras
sobressaem às dores salgadas

e mancham a folha
enquanto escrevo


Unindo-as, sou mais leve ...

 
 
Adriane Lima
 
 
 
Arte by : Jonhy Palacios Hidalgo
 
 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Maternas asas



A mente confusa
me acusa do sono roubado
não quer descansar
olhos vidrados em pleno voar

O dia clareando
pássaros cantando
silêncio no resto da casa

Dorme em mim
a mãe leoa
a mão patroa
a mãe bela
a mão fera
adormecem sem voz

O vazio da idade
faz a maternidade sangrar
rio vermelho que foi sumindo
solidão mulher veio surgindo

filhos de asas, partiram

Não voamos mais juntos
estanquei
em raros momentos de voos : eu solo...



Adriane Lima







Arte by Sophie Wilkins 

domingo, 22 de abril de 2012

Plenitude


Hoje no meio da tarde
surpresa e alarde
e então 
percebo que,
uma nova arte surgiu

fim de mais um dia
começo de Abril

Anotei a data
para lembrar e ser exata
memórias se perdem ultimamente

De minha janela
olhando o horizonte
pintei a tela
bebi da fonte
fel e mais nada

O céu em negro se formou
tinta escorrida de meu rímel

choro sentido e imprevisto
depois de passado o susto
dou forma aos corpos
com as digitais 
em outras matizes
Olhei de novo, me senti quase um "Matisse "




Adriane Lima



Arte by  Sophie Wilkins

Genética da Saudade



De minha avó Antonieta
herdei a veneta e o bom humor
a praticidade vinda com a arte
de ver a  vida com muita cor

De minha avó Rosa
herdei a prosa  e o amor
a tez clara e tudo que sei de culinária
espiando-a  no fogão

De meu avô Avelino
herdei o desatino e muita força
para não se curvar diante da vida
mesmo estando arqueado

De meu avô Lima
herdei o cultivo das lembranças
o dom criativo
a presença de espírito
e a leveza de meu jeito criança

Avós são os doces da vida
heranças calmas
horas sentidas

Eles se vão e deixam em nós
o vazio da despedida

Lembro-me dos bolinhos de chuva
os doces de figo em calda
o cheiro de café passado em coador de pano
o barulho da máquina de costura
os filmes da sessão da tarde
a vitrola onde os discos giravam
comandados por uma agulha
a oração ensinada
os brinquedos artesanais
e tudo que não volta mais

o colo quentinho,a caricatura da vida
a fotografia amarelada

Doce agonia da saudade



Adriane Lima



Arte by  Natalia Bryliova 

Amor de touro





Meu olfato desliza
entre o café na cama
e o corpo em chama

Aromas sensoriais
o silêncio quebrado
pernas, boca e a fome

Vinda do amor e suas possibilidades
o arrepio do beijo
dado na nuca

o cabelo emaranhado
entre os dedos e a
força bruta

a pele deseja ser tocada
em doçura
aroma de corpos
café já esfriando
loucura e desatino

acordo...
início de uma manhã
sonhada por um taurino ...



Adriane Lima





Arte by Irene Sheri

Laços Afoitivos




Não sou uma mulher helênica
feita para as esperas
não vivo fechada
em regime espartano

Não me venha com nada
que seja silêncio
tão pouco,mundano

Minha Penélope é
que foi para a batalha

esperar...muito obrigada!!!

De tudo que esperei
só me decepcionei

Arquétipos e histórias de Mitologia
são flechas já lançadas
passado que foi limpo
em genéticas bem traçadas

Sou sim, um pouco Ariadne
me joguei em labirintos
dessa vida desvairada

Meu príncipe , nem virou sapo
não saiu do imaginário
e meu homem real
é quase lendário

Gosto mesmo é de Afrodite
espalhou amor, abriu apetites

Por isso, vou logo avisando:
não se engane comigo
em minha história de amor
já matei até o Cupido

Em asas,só acredito nas minhas
que povoam a imaginação
nessas, eu dou cordinha
por pura intuição

Conheço estrelas
nada em excesso
procuro abertura em meus caminhos

longe dos presentes de gregos...

meu lado mulher
agradece às deusas da antiguidade

 
 
Adriane  Lima
 
 Arte by  Arunas Rutkus 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cores ocultas




 Há escondido na borboleta
um quê de mulher sonhadora
asas ganhando espaços
escuridão de mulher pecadora


cores da borboleta
cio de mariposa


No dia silêncio e flores
na noite barulho e vozes

 Amar a borboleta é fácil
colorida,mansa e inofensiva

Amar a  mariposa é difícil
negra, arredia e evasiva


Não há borboleta ,sem mariposa
Não há prisma vazio
que produza cores


Olhe para uma e veja a outra
o que está oculto não tem pressa


uma voa, a outra volta....



Adriane Lima


 Imagem :  Marina Polidskaya

Pinceladas de amor barato




Triste não ter a cor
do papel em branco
lendo Neruda no escuro
para não acordar o amor

Entre minhas pernas
o travesseiro
sendo a alma gêmea
retendo minha dor

Peço ser fêmea e não poema
um porto que eterniza navios
musa além da escrita
que em teus sonhos se traduz

Chega de ser ternura e carinho
brincar de bandido e mocinho

Entre nós há
o profano e o sagrado
modernos "Heloísa e Abelardo"
ícones de amor
que no túmulo deixarei rosas

Não pense que tiro isso de letra
domestiquei em mim o capeta
para não te chamar de meu

Madrugada ,me faz cansada
melhor cair nos braços de Morpheu


 


Adriane Lima






Arte by Andrzej Malinowski 

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Silêncio Negro

                                
 
                            (para Amy WhineHouse)
 
Se ao menos
a voz fosse guardada
em caixas
de memórias
e depois executada
com a mesma suavidade
de teu tom
juventude transviada
ainda é história
 
Luto pela rouca voz
que calou em mim
que embalou novos tempo
sonoridade maior
 
Onde tantos estavam que não viram
tamanha ironia ?
ir definhando aos poucos por amor
e poesia
 
Será um capricho dos Deuses?
te levarem para perto deles
 
Como teu olhar misterioso
poderá ser desvendado
a quem servirá
o espaço por ti deixado
 
Meus olhos se espantaram
meus ouvidos se fecharam
e me fiz silêncio
 
Tua voz
ouvirei novamente
apenas em
minha mente
e suavemente
 
me conduzirei
ao tempo
presente
de uma
eterna embriaguez
 
 
 
Adriane Lima
 
( Imagem :   Tiffany Bozic )
 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Alumbramento

Ao cruzar os olhos
pelo azul do céu sem nuvens
perco o rumo dos desejos embrutecidos
amores vagos,
caídos ao fim do dia
banidos em algum vagão
dos sonhos de primavera

Adeus, palavra de espera...
sinto no vento, um resto de sentimento
suavidade e encantamento
Será saudade...(?)

Como se em mim houvesse
um pouco de amante
que distraída pisava em flores

Existência de calor devolvido
por entre olhares
e um bocado de palavras
onde dou forma ao meu êxtase
de tempos em tempos necessitar-te

Ao ver o mundo sem maestria
acordo e ponho em meu céu os diamantes
que brilham ao ver-te alumbramento
entre meus dias de espera e poesia

 





Adriane Lima







Arte by Tomasz Roth 

terça-feira, 17 de abril de 2012

Solidão Insone



Enquanto o corpo imóvel
se aquieta
a mente não para
nunca se acertam

corpo e mente não se aquietam
quando um cala outro berra
se o corpo pede calma
a alma acelera

Sozinha
me perco
me encontro
revejo saídas

De dia embate
de noite insônia
A solidão ruído
que brilha mais alto
e sofrido

Árvores se distorcem pela
sombra da cortina e sob
a luz de um poste me ilumina

Pensamentos engasgam
Idéias me abandonam
só quero ter meu sono

O vento canta sua canção
de ninar os astros
Ao longe o céu parece
engolir meus pedaços

Mente corpo
Corpo mente
são vozes que não quero ouvir...
 
 


Adriane Lima
 




( Imagem :  Michael and Inessa Garmash )

Viagens ilusórias



Sentimentos contidos
coração sangrando.
viver tem suas mortes
seus demônios em clausuras

Silêncio que fala, por olhos transparentes
é nele que mora a noite que intensifica
minha Eva 

e também minha serpente

eis o bem que me dá

e o mal que me faz
esse misto de viagens interpessoais

no sim, existe um não
no céu, existe um chão
Nas marés, minha transformação

onde me entrego feito marujo,sem embarcação
vontade que aflora, 

em fel , em memória
pura e ilusória indignação

o veneno tomado, a maça mordida
entre nós a ferida que não cicatrizou
 

O amor negado
com gosto de pecado
juras e lamentação





 
Adriane Lima 



Arte by Irina Vitalivieva 

Lúcida Lucila



                                                                        (Dedicado a minha avó paterna)

Minha loucura foi herdada
Veio caminhando desde minha avó
Que me ensinou a correr na chuva
E tomar café num gole só

Plantava flores em todos cantos
Pintava céus de rosa shock
Palhaços de pés gigantes, que nem
cabiam nos circos de suas telas imagináveis.

Amarrava macaco na cerca da vizinha
E a pobrezinha nem tinha direito a reclamar
Destroncava pescoço de galinhas
E me embalava em suas redes no quintal

E eu lá pequenininha assistia tudo e achava graça
Seu jeito lúdico de ver a vida
Achava aquela mulher tão destemida
E adorava com ela, roubar flores na praça

Por vingança soltava os pássaros,
que meu avô colecionava
Era sua maldade escondida,
Distribuia cafés a quem tinha perdido,
Os grandes os sabores da vida

Nunca a vi triste ou desamparada
Era brava com que merecia e sabia impor
Aquilo que não gostava

Insensata seria eu ,se não tivesse abraçado essa herança
Teria passado pela vida,sem ter as certezas
 
De que aqui só se vive bem,quem alimenta a própria criança ...

Adriane Lima

( Imagem : Jean Claude Desplanques )


sábado, 14 de abril de 2012

Feitio de menina...



Onde estão as sementes
jogadas no jardim?
onde está a menina
cheirando a jasmim?
onde está a donzela
que pensou no amor
como tábua de salvação?

Onde está a canção
de rock’n roll
que Bob Dylan
cantava para mim
por horas sem fim
no volume máximo
entre as paredes azuis do quarto?

Só agora percebi
que prenderam a alegria
e ainda levaram a chave ...
alguém sabe quem a levou?

Tenho a plena
certeza de ter fechado o cadeado
E depois tê-la amarrado
bem na ponta da lua crescente.
assim,não poderia esquecê-la
mas algum vilão
roubou-me a caixa dos sonhos

E assim se foram os momentos risonhos
onde acariciei utopias
mergulhei na fantasia
juntei sonho com realidade
e agora ,sem essa alegria
que está presa na caixa lacrada
que era banhada de alvoradas
e de entardeceres lilases..
oomo vou construir a poesia?

Se lá ficaram todos os sonhos sonhados
os mistérios decifrados
de que hoje não me recordo mais?
quem souber do seu destino
por favor,me comunique
porque nem eu mais acredito
nos véus de possibilidades

Ainda sei que o amor
traz felicidade
que estrelas furtacor
levam a maldade
o peso de um olhar
um segredo guardado
o som do silêncio é bom
o beijo que não foi dado
o escrito hoje apagado
os rabiscos de giz de cera
os minutos de bobeira
o vela soprada na claridade

Foram todas as verdades
que alguém me roubou...
fingindo ser meu amigo
me deu abrigo e me contou,histórias de amor...

E toda esse brincadeira de escrever como quem rima é apenas
meu lado menina, que acredita em poesia vinda da ponta dos dedos
e se distrai com sonhos e segredos como quem costura desenho em nuvens...



Adriane Lima




( Imagem : Stanislavas Sugintas )




sexta-feira, 13 de abril de 2012

Céu de Abril




Passei a vida inteira tentando interpretar
porque não gosto de vermelho


desperdício de tempo querer explicar

o vermelho me rodeou
ao acordar em céu de Abril
onde as folhas de outono
começavam avermelhar
minha oração começava falhar
então comecei a enxergar


emoções avermelham olhos
avermelham a pele
vermelha é a febre


o vermelho do sinal fechado
do sangue jorrado em ferida aberta


a língua, os arranhões
a pimenta malagueta
o desejo de cortar tendões


a cereja do martíni
a bandeira do Japão
o frágil coração


o peixe no aquário
meu imaginário
amor de rubro ardor


a carne mal passada
que sangrou no prato


lá fora o sol ficou avermelhado
restos de um passado
que foi negado
afogado no mar da impossibilidade


- tudo me avermelhou








 



Adriane Lima







Arte by Luigi Spano

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Réquiem de um sonho




A noite para mim é um deserto
enquanto a vida dorme
faz-se em mim um silêncio enorme
então, não sei quem sou

De minhas visões saem anjos

e por momentos , cinzentos
asas quebradas pela dor
quarto crescente da lua vaga
em céu silente e sem calor

Envolvida , minha mente

manifesta renitente
o que o vento me murmura
e o que o tempo transfigura

Percebo que os vivos

estão mortos
é meu réquiem de sepultura
para os mortos que estão vivos
sendo a raiz dessa amargura

Crio o funeral de um sonho

envolta em nostalgia
matando minhas visões
acordada, sou poesia

Morte e vida seguem unidas

feito irmãs siamesas
e nisso sinto a magia


Ouço Mozart ao nascer do dia...


Adri Lima


 
 
( Imagem Yannick Bouchard )

Alma ferida



O espelho de minha alma mostra
o que externamente não se vê
são feridas expostas
abertas em minha pele
que em minha retina, se lê

Palavras que não explodiram
em forma de covardia
são dores, são açoites
que vivi entre meus dias

Os silêncios mais doloridos
as palavras nunca citadas
queimam a cada minuto
em minha pele apressada

Quero fazer vir tudo à tona
para que possa fazer sentido
isto tudo tão dolorido,
tem que ir saindo de mim
 e chegar até você


 




Adriane Lima




Arte By  Jonnhy Palacios Hidalgo

Incerto Abril



Esse imenso Abril
parece não terminar
desabam montanhas
ressaca o mar
Teve gosto de saudade
alegrias e necessidade
deixou a eternidade
vir de novo se instalar

Dentro de minha casa
já não mora mais o vento
as folhas caídas  foram levadas
feito dores suicidas
de um princípio sem ter fim

Por entre ruas, carros e edifícios 
a carne sangra a dor do outro 
e Abril não desistiu, 
de partir dentro de mim.

Rasgando meu peito feito nuvem
mudando desenhos e contornos
a olhos vistos no infinito
 
Talvez assim,houvessem gritos
De anjos e Querubins






Adriane Lima





 Arte by Yannick Bouchard
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