sábado, 15 de outubro de 2011

Fruto Incerto




Antes de você aparecer
eu nem sabia
haver em mim tanta magia
em minhas mãos poesia
canções de bossa nova
esquecidas no tempo

Nunca o espaço foi tão pouco

para despertar desejos loucos
abismos em forma de versos
acalentando meus reversos
que eu nem lembrava existir

Antes de você aparecer

eu nem sabia
haver em mim nostalgias
asfaltos onde brotam flor

Dentro de mim tal movimento

nem sei dizer o que traduz
amor que transcende o verbo
das melodias que compus

Tanto que já nem saberia

se isso é bem, se isso é mal
se é melhor sair de cena

e escrever :
ponto final

Dilema que me confunde

e onde perco a exatidão

do que vem só de você
 e o que vem de mim,
 

Como fruto da paixão




Adriane Lima



Arte by  Lauri Blanki 

Se és,sou



Se sou tinta

És a tela
Se sou pincel
És aquarela

Se sou céu

És minha terra
Se sou estrela
És o brilho dela

Se sou noite

És lua cheia
Se sou livre
És minha teia

Se sou mar

És arrecife
Se sou dia
És a alegria

Se sou a voz

És o meu eco
Se sou água
És meu oásis

Se sou espelho

És meu reflexo
Se sou côncavo
És meu convexo

Se sou o tempo

És meu relógio
Se sou corpo

És o meu braço

E se me perco
 

És o meu guia
E se me acho

És liturgia
E se escrevo

És poesia

 




Adriane Lima

Indômita




Em mim existe um bicho latente
horas me faz feliz
horas me faz tão triste
que nem sei se existe
uma saída para nós

O bicho que aqui habita
muitas vezes me faz mergulhar
em mares desconhecidos
e de um jeito destemido
fica olhando eu me afogar

O bicho que aqui mora
não quer me abandonar
ele grita, me implora
sente o sufoco
sente falta de ar

Esse bicho é o que devora
os que tentam me ameaçar
mas traz perfume das rosas
quando vem me despertar

O bicho em mim sabe arranhar
deixar marcas e se debater
travamos lutas diárias
entre o que eu vejo e o que ele vê

O bicho é meu beco sem saída
a luz que eu não pude atravessar

é a força impulsionando vida
que eu tentei tanto esgotar

 







Adriane Lima



Conto : Flor de Mudança







 Ela era a flor mais bonita daquele imenso jardim, entre jasmins, acácias, orquídeas e rosas, sua coloração vermelho-sangue a destacava das demais flores.
Embora o perfume se misturasse entre tantas outras daquele lugar.
E mesmo estando escondida entre o muro e a hera, ela continuava dando flores, crescendo e brotando novos galhos, feito braços buscando luas.
E entre eles havia trocas,quase que um antropismo feito por quem a polinizou ali, a hera e seus ramos despencavam nela feito um carinho e o muro lhe dava sombra, não a ofuscando jamais.
Até que um dia o dono do jardim, acreditando que ela estava lá sufocada e escondida, julgando que ninguém estava vendo sua real beleza, pediu ao jardineiro que a mudasse de lugar.
E assim foi feito, ela ganhou um lugar de destaque no jardim, não estava mais oprimida entre o muro e a hera, naquele antigo canto esquecida.
Poderia agora florir livre em novas primaveras, o sol estava tomando conta de cada galho, naquele final de agosto feito de  securas e esperas.
E cada dia um pedaço de seu corpo foi se transformando, ela foi caindo e murchando.
Perdendo o brilho e a cor.
Vendo isso, seu dono inconformado se perguntava, como poderia isso ter acontecido se ele, havia lhe dado o melhor lugar de todo jardim e ela parecia agora morrer.
Eis que seu jardineiro respondeu, que isso seria normal nos primeiros dias, pois a dor de uma mudança, sempre quebra o brilho de uma flor.
Lá onde ela agora estava havia sol, havia espaços suficientes, havia destaque para seus galhos crescerem e darem mais flor.
Acontece que ela já estava acostumada a viver amparada pelo muro a sombreá-la, ela não queria destaques, ela queria a sombra, queria companhia e enroscar-se na hera, que nunca a prejudicou.
Trocavam carícias escondidas, palavras em forma de versos, entre pássaros e muitas cores.
Mas ela não teve como escolher. O destino escolheu por ela.
E assim ela sofreu, o descompasso de sua condição de flor.
Ninguém pode dizer, que ela não tentou, pediu ajuda ao sabiá que lhe trouxe canto em forma de amor, depois veio um canarinho pousar em seu galho e dar-lhe carinho, mas de nada adiantou.
O beija-flor vendo aquilo, fez-lhe visitas todos os dias e em seu voo apressado, fez-lhe pausas inusitadas, tentando ver se ela sentindo-se amada teria forças para brotar e da seiva arrancada da terra, florir de novo em seu resplendor.
Mas de nada adiantou...
Cada dia que passava mais morria a flor.
Vieram inúmeras borboletas fazerem cócegas em suas folhas, tentaram malabarismos mas ela não reagiu, ela ficou imóvel entre pássaros e borboletas e então...Sucumbiu.
Suas raízes não mais a sustentavam, as folhas foram murchando e ali naquele imenso jardim ela acabou definhando, perdeu o brilho, perdeu as flores, perdeu amizades e amores.
Pobre flor, não teve escolhas, não souberam entender que mesmo oprimida, ela ainda brotava, lhe deram espaço mas lhe arrancaram vontades próprias.
Mostraram um novo mundo que ela não tentou viver, suas pétalas descansaram ao chão ,sua raiz secou, perdeu o viço, perdeu a cor.
E todas as flores ao seu redor tentaram entender: porque o medo impediu mudanças, o espaço aberto de um novo viver ao invés de dar-lhe luz e esperança, encheu a flor de insegurança e uma implacável vontade de morrer .
Muitas vezes as sementes vão parar no lugar certo, mas nem sempre podem brotar...
Foi tempo apressado, tempo errado, de homens que não entendem de flores que não querem ir.
Só querem ficar quietas em algum lugar esquecidas e assim... Flor(ir)...











Adriane Lima

Crônica :"As Janelas do Amor "


 Não sei se Bill Gates, quando criou o Windows, imaginava que esta janela, absolutamente moderna seria capaz de ser objeto de inúmeras histórias de amor, será que ele sequer imaginou  ter uma moça debruçada, qual na música do Chico ?
 Mas tem. E são muitas as Januárias sendo homenageadas ,nessas janelas distantes do mar.
 A janela pode não ser palpável. Mas os amantes são de carne, osso e muito sentimento.
 Os desatentos não perceberam. Os rígidos acham um absurdo.
Todo mundo acha alguma coisa, mas parecem não perceberem um detalhe: o amor é o mesmo, o que mudou foi a janela
 As Januárias também mudaram,assim como mudaram os príncipes encantados,mas o amor moderno busca as mesmas idealizações do amor de anos atrás.
 Provavelmente ,a Januária de hoje fale de amor em um blog, leia poesias,escute músicas românticas diferente de sua mãe que esperava o amado no portão,tinha um seresteiro sob sua janela mas,também gostava de poesias e escrevia em um diário os seus sonhos "cinderelescos".
 Essa é a Julieta pós-moderna  que compreendeu o que as modificações nas relações significam, consequentemente a perda da forma antiga da expressão do amor.
 No entanto, o ideal de amor ainda persiste mesmo que imaginariamente...
 O ideal de amor, aquele proclamado nos versos de Chico Buarque,que vê o tempo passar na janela e só Carolina não viu!!!
 Mas é lógico que essas Julietas,Januárias e Carolinas modernas trabalham fora,têm autonomia,são amantes e também amadas e com certeza ja frequentaram sessões de análises e provavelmente já sofreram por amor e literalmente não morrerão se algum Romeu as deixarem.
 Do mesmo jeito que o Romeu moderno hoje entende de mecânica,eletrônica, de bolsas de valores,entra em sites de relacionamentos,conhece vários países,sabe cozinhar,fala várias linguas mas, tem um sentimento unilateral por a sua amada.
 O que se diz moderno não é o amor...e sim as facilidades e a forma de se relacionar através do amor.
 O que cada um espera sempre será uma busca única,individual
 Não existem fórmulas ,não existem jeitos de amar,mas existe o amor real, o palpável,aquele que sustenta e é sustentado pelo cotidiano,pelo aprendizado e desse ninguém consegue fugir.
 Quem quiser sair da janela ,terá que viver o amor real,e entrar em contato com o amor dos novos tempos.
 "Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar."já dizia  Machado de Assis.
 Desde que no mundo surgiu a primeira história de amor,muitos de nós já sofreram desse mal e os que ainda não sofreram , saibam que não terão escapatória.
 O amor é um bem universal, pertence às leis divinas,mas amar ao próximo também é passar por dores e lições,de humildade e aceitação.
 Mesmo em um mundo de modernidades,o amor ainda é sonhado,buscado,constantemente pelo simples fato de que a solidão não é uma boa companhia para ninguém.
 O amor romântico nao vive só nas janelas dos internautas, mas também nas telas dos cinemas.
Impossível ter alguém que não goste de ir com o seu amado ao cinema assistir uma bela história de amor.
 Até na publicidade moderna se prega o romantismo.
As propagandas ,quando querem vender algo de amor, criam uma atmosfera com flores,luz de velas,casais se beijando na chuva e até  paqueras por telefone com sms.
A verdade é que o  amor ,até hoje ,ajuda a vender produtos.
Então será que o tal de amor pela internet acabou mesmo com o romantismo?
É incrível a quantidade de pessoas que cada vez mais encontra a sua cara- metade através de um chat ou de um site de perfis e acreditem ou não, muitos dão certo!!
Os conteúdos emocionais são trocados com mais facilidade onde há maior liberdade para expressar desejos e interesses.
Onde até mesmo um jogo excitante se desenvolve antes do primeiro encontro real.
Tudo isso, desperta sensações diferentes, ás vezes as pessoas já se conhecem de tal forma que não há lugar para constrangimentos e o amor pode mesmo acontecer.
E em fantasias não se cresce. Nem se ama.
Quem nunca sentiu a estranha sensação de se apaixonar sem mais nem por quê?
Ou ainda de depositar expectativas em uma relação fadada ao fracasso?
Talvez essas inquietações não sejam características individuais, mas sensações que envolvam todos os indivíduos .
Hoje lidamos com tudo muito rápido,muito pronto,muito necessário ao apelo do outro,ninguém mais se dá tempos de conhecimento,a nova geração ama e desama com a  mesma rapidez e nem por isso deixa de ser amor.
Hoje temos um hedonismo muito grande nas relações,as pessoas buscam o prazer a qualquer custo e muitos se tornam os "egoistas do amor" e por isso o amor vai se modificando nesses novos tempos.
Mas nunca deixará de ser essa busca incessante de felicidade.
Hoje se pensa também no amor-próprio,onde se descobriu que para se amar o outro é preciso estar inteiro.
Portanto moderno,antigo pouco importa...desde que seja amor !!!
Abra sua janela e deixe-o entrar!!!
  
  
Adriane Lima

( Texto publicado na revista Glamour / edição 4  Ano 1 )

Desalento



 

Em meu desalento
nesse momento
Me pego por dentro a perguntar.
Sobre as coisas mais banais
Que habitam os"quintais
"de minha imaginação
Onde moram seus dragões
sua alma e seus porões...
Pra se esconder assim.
Proteção absoluta
que tanto você reluta,
por escudo ou sedução
Questiono a simplicidade
e longe de ser maldade
já nem sei se sei de ti.
Que sonhos você ousa?
Do que você tem fome?
Quais são os seus delírios
Do que você tem medo?
Por que tantos anéis?
Que elos você solta?
Que bicho você prende?
Que música te toca?
que gozo você sente?
Onde fica tua porta?
Qual é minha saída?
Como é que você cresce
dentro de minha vida?


Em meu desalento
Me pego por dentro...






Adriane Lima

A asa oculta da Borboleta




No inicio era só uma menina
que subia no telhado da casa
para ver a cidade aos seus pés
via que a realidade era pequena
diante de seus sonhos
de um dia ser uma grande mulher


Houve tempos de

descobertas infinitas
a beleza da mocidade
os amores, a vida livre
as músicas que a embalavam
os perigos que a rondavam
e algemas que a prendiam
em suas buscas pessoais

Mas sendo dona de sua

própria história
foi viver sua liberdade
em lugares bem maiores
 

A menina se despediu
e a visão abaixo da cidade
era agora a sacada
de um apartamento
e naquele exato momento
ela percebeu as asas que perdera

Então, sublimou a vida

enfeitou suas feridas
e seguiu o que escolhera

Foi brincar com as palavras

vestiu-se de poesias
e com ela fez pontes
conheceu novos horizontes
de uma vida abstrata

Pelas frestas dos dedos

guardou segredos
desejou morrer ao
sentir o medo
de não ter mais
um telhado para subir

As esquinas se tornaram

grandes e ela improvisou
saudades, guardou beijos e
os caminhos percorridos
cruzaram-se dentro dela

Já não havia mais os

delírios de menina
nem a Cinderela
para perder o
sapatinho de cristal

Menina de tantas buscas

voltou para casa
nas asas de uma borboleta
asas frágeis, delicadas
que a sustentavam no ar

A menina pedia um sonho

e ganhou um poema
a menina pedia um amor
e ganhou um poeta

Ela voltou ao telhado e

olhando estrelas
descobriu que estava
quebrando o casulo de
seu velho mundo

Voou

e aos abismos
presenteou com nuvens
nas asas brotaram novas flores
 

e a menina??

A menina

foi viver felicidade
feita de palavras e poesia
em um telhado em Paris


 




Adriane Lima







Arte by  Marina Podgaevskaya

Concha de Sonhos



Transforme meu corpo
em uma concha
encoste-se em mim

ouça

os meus segredos
os meus sussurros
os meus medos

no silêncio da tarde

vejo uma ave ao longe
escuto o bater de
suas asas

só não sei,onde

você se esconde

venha, aproxime-se

faço-me concha
para protegê-lo
ou revelar-lhe
os sons de meu mundo interno

seremos como esses versos

escritos em uma tarde vazia
habitando os poros do tempo

vivendo em minha poesia

onde busco o sonho perdido

posso ser concha fechada

ou uma flor que se abre
em pétalas

na palma de sua mão

encontra-se a chave mestra
decida o que quer de mim
sem pressa






Adriane Lima

Desenhando Sonhos



E no silêncio do fim de tarde
vejo o céu recheado de pássaros
fugindo da chuva

Fecho a janela e os pingos que caem
vão formando desenhos diferentes
uns se unem aos outros e vão ficando
maiores adquirem novos feitios

Iguais aos pássaros
marionetes soltas no céu
ora ,fazem círculos,
ora ,dão rasantes
não em canso de olhar
essa dança acrobática

E nessa hora de contemplação
ponho-me a pensar
para onde irão os pássaros
e os pingos da chuva...?
Para onde irão ?

E me entrego ao tempo
cinzento,friagem e vento
jogo meu pensamento
num saudosismo só meu

Para onde foram
as músicas que não dancei ?
os beijos que nunca dei?
as pessoas que não mais encontrei ?

A noite bateu em minha janela
e com ela o meu cansaço
e um cálculo até trágico

Amanhã é segunda -feira
e onde estarão
os pássaros
os pingos de chuva
e a minha solidão

Talvez perdidos de novo
em um outro poema
 





Adriane Lima

Visões de Primavera



O inverno chegou
e com ele fugiram
as flores
silêncio se instalou
nas tardes cinzas

sinfonia acabou
em meu céu
não vejo revoadas
de andorinhas

O azul é mais desejo
eu bem sei
Assim como mais intensa
é a saudade

O silêncio incomoda
nessas tardes
em que os pássaros
não visitam meu quintal

é como se tua presença
não me faltasse
nas asas abertas desse pássaro
se ele me sobrevoasse

Pois assim ao menos saberia
que as flores da primavera
e tuas mãos estendidas
estarão logo,
se aproximando






Adriane Lima 

Servidão de Palavras



Em dias que estou solitária
Escrevo mais poemas
tiro mortalhas
fico mais leve
perco meus medos

Nesse silêncio que vive aqui
minhas mãos não podem ficar
sozinhas com a caneta
pois quase de veneta
teimo em falar de amor

Mas não posso deixar
que isso me domine
tenho vontade de fazer rimas tolas
de tomar a vida em uma ampola
doses pequenas
para sentir mais

entorto as linhas de meu compasso
faço meu corpo ficar de aço
não deixo a luz entrar
fico plena de escuridão
renuncio muitas verdades

Bastaria saber que são fases
Bastaria saber que estou viva

Mas a poesia sempre quer mais
ela quer falar do que não posso
e me torno sua subserviente
ela quase me domina

nesses dias febris
onde falo de amor
e meias verdades
e meias mentiras
qualidade
que não é minha
mas dela
que se faz rainha
e me comanda

E eu,nada ouso,
além de escrever

 




Adriane Lima

Cenas in Memória




Não há beleza maior
do que parar o tempo
guardar o sabor dos
momentos
 

Imortalizar o que aconteceu
reter na memória tudo o
que valeu

Cenas de cinema
cenas de novela
cenas cotidianas
cenas pequenininhas
simples quanto o pousar
de uma borboleta

Fechar os olhos
e ver com a alma
com a memória
rever história
com o escuro e puro
silêncio interior

Congelar o que
o tempo eternizou
a saudade solidificou
sem rumo ou direção

Tirar os pesos
esquecer das horas
aqui onde o vazio tem valor

respirar fundo
sorver a vida
buscar o ar
da serenidade

e em cada suspiro
lembrar o que vai 

acompanhar
até a longa eternidade

 






Adriane Lima

Tempus Fugit




Todos os dias nasce uma flor
morre um amor
nasce uma dor
morre, nasce
nasce, morre

- intensifica

 esse movimento de nascer e morrer
caleidoscópica sede de viver
teia feita de frente e verso
por emaranhados sentimentos de angústia

as certezas contidas
nos gestos confusos
as palavras soltas
nos sonhos malditos
as trêmulas pernas
nas mãos em espera
-corpos jogados ao vazio-

exato mesmo é que se nasce 

é que se morre
não o que se diz
nem o que se sente
 

latente é quando 
o amor não se traduz
joga-se a semente à espera da flor
 

mais certo é compreender 
que todas as perguntas são fúteis
quando estamos felizes 

Talvez seja esse o 
inútil passar do tempo lá fora

 







Adriane Lima








Arte by Alberto Pancorbo  
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